O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) lançou nesta terça-feira (08.07) o Plano da Operação Energética (PEN) 2025-2029, documento que projeta um cenário desafiador para o atendimento da demanda de energia elétrica no Brasil, especialmente no horário de ponta — o início da noite —, nos próximos anos.
O estudo mostra que, se mantidas as atuais condições de suprimento, a capacidade de atender ao consumo nos horários de pico pode ser comprometida já no período seco de 2025. Com isso, o operador passou a considerar como “imprescindível” a adoção de medidas alternativas — entre elas, o eventual retorno do horário de verão, suspenso desde 2019, no governo Jair Bolsonaro (PL).
“A depender das projeções de atendimento para os próximos meses, a adoção do horário de verão pode, eventualmente, ser recomendada ao CMSE como uma ação imprescindível”, afirmou o ONS, em nota.
Desafios de curto e médio prazo
A principal preocupação do ONS está relacionada à crescente participação da energia solar na matriz elétrica. Por ser uma fonte intermitente — ou seja, sem controle pleno sobre a geração —, a solar tem ampliado o risco de desequilíbrio entre oferta e demanda, principalmente nos horários em que o sol já se pôs, mas o consumo ainda é alto.
O problema tende a se agravar nos próximos anos. O PEN 2025-2029 destaca que, durante o período seco de 2025, todos os cenários simulados indicam a necessidade de acionar usinas termelétricas além daquelas que operam continuamente por inflexibilidade.
Com a suspensão de um leilão de reserva de capacidade que estava previsto para 2024 — cancelado após questionamentos judiciais por setores não contemplados pelo edital —, restaram poucas opções imediatas. Segundo o ONS, a falta dessa contratação exigirá, além do acionamento de térmicas, o uso da reserva operativa: um volume mínimo de energia armazenada em hidrelétricas usado para estabilizar o sistema em casos de emergência.
Medidas sugeridas pelo ONS
O operador já havia alertado o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), em maio, sobre o risco iminente, e sugerido um pacote de medidas emergenciais. Entre elas:
- Adoção do horário de verão, para deslocar o consumo da noite para períodos com maior geração solar
- Mecanismo de resposta da demanda, com ressarcimento a indústrias que reduzam o consumo no horário de pico
- Antecipação da entrada em operação de térmicas contratadas em 2021, previstas para 2026
- Preservação de recursos hídricos nas bacias estratégicas para o período seco
- Aceleração de obras estruturantes que aumentem a confiabilidade do sistema
Contratação de energia flexível é prioridade
O PEN também aponta que os desafios estruturais do sistema serão ainda maiores no médio prazo, e por isso defende que o país retome os leilões anuais de capacidade, priorizando usinas flexíveis e controláveis — como hidrelétricas, termelétricas de ciclo rápido e baterias — para garantir resposta eficiente às variações da carga.
Nesse contexto, o ONS critica os leilões que priorizam térmicas inflexíveis, como os exigidos pela lei de privatização da Eletrobras. Para o órgão, esse modelo pode agravar o problema de sobreoferta durante o dia, quando a geração solar atinge o pico, sem necessariamente ajudar nos horários críticos da noite.
“Com o crescimento das fontes intermitentes, novos desafios também surgiram para a operação”, afirmou Marcio Rea, diretor-geral do ONS. Segundo ele, a flexibilidade operacional será um requisito cada vez mais estratégico para a segurança do fornecimento de energia.
“Precisamos cada vez mais de flexibilidade no sistema, com fontes de energia controláveis, que nos atendam de forma rápida para termos o equilíbrio entre a oferta e a demanda de energia, especialmente nos horários em que temos as chamadas rampas de carga”, destacou Rea.
O documento apresentado nesta terça-feira serve de base para a formulação de políticas energéticas e para a tomada de decisão do governo federal e das agências reguladoras. As recomendações do ONS, especialmente em relação ao horário de verão e à contratação de capacidade, devem pautar as discussões técnicas e políticas nos próximos meses.
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