Fundo controlador do Grupo Safras pretende captar até R$ 1 bilhão para reerguer o conglomerado fora do Judiciário e acusa antigos sócios de dificultar reestruturação com foco na recuperação judicial.
O Grupo Safras, conglomerado agroindustrial com sede no Mato Grosso e um passivo superior a R$ 1,7 bilhão, está no centro de uma disputa que pode alterar os rumos de sua recuperação. O fundo AGRI Brazil Special Situations, constituído pela paulista AM Agro e gerido pela Yards Capital, assumiu 60% da empresa e protocolou um pedido de desistência da recuperação judicial (RJ) que estava em curso desde março deste ano.
A movimentação acontece após a Justiça de Mato Grosso suspender os efeitos da recuperação judicial em maio, por meio de liminares que apontaram falhas no pedido inicial e inconsistências contábeis.
Agora, com o processo paralisado, o fundo afirma que a via judicial atrapalha a entrada de novo investimentos e promete levantar entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão no mercado para promover a reestruturação diretamente com os credores.
Entenda a reviravolta societária
A mudança de controle ocorreu no dia 7 de julho, quando os fundos Axioma e Alcateia, da gestora FIDD Group, cederam ao AGRI os direitos de uma opção de compra sobre 60% das cotas do Grupo Safras. O contrato, assinado em agosto de 2024, previa cláusulas que permitiam a transferência da opção a terceiros sem necessidade de nova anuência dos sócios fundadores, como Dilceu Rossato e Pedro de Moraes Filho.
Com o exercício da opção, o AGRI afirma ter se tornado o acionista majoritário e controlador do grupo, assumindo, inclusive, o papel de liderar o processo de reestruturação.
O pedido de desistência foi apresentado na 4ª Vara Cível de Sinop (MT), com o argumento de que, como o processamento da Rj está suspenso, não haveria necessidade de aprovação em assembleia de credores — exigência prevista no artigo 52, 54°, da Lei de Recuperação Judicial.
O fundo argumenta que a reestruturação extrajudicial traria mais benefícios aos credores, especialmente os trabalhistas e produtores rurais, que, segundo o AGRI, têm sido os mais prejudicados pelas dívidas do grupo.
Além disso, o fundo acusa os antigos sócios e seus advogados de litigância de má-fé, afirmando que eles estariam tentando invalidar a operação de cessão e dificultando a retomada das atividades da empresa.
“Litiga de má-fé os ex-patronos e atuais sócios minoritários da companhia, pois toda essa discussão prejudica ainda mais os interesses do Grupo Safras”, diz trecho da petição.
Justiça de Mato Grosso versus foro de São Paulo
Outro ponto levantado pelo AGRI é que a Justiça de Sinop não teria competência para julgar disputas relativas ao contrato de opção, uma vez que o foro definido no documento é a
Comarca de São Paulo. Com isso, o fundo também pediu que a juíza Giovana Pasqual de Mello se declare incompetente para decidir sobre questões ligadas à sucessão societária.
Histórico do pedido de recuperação do Grupo Safras
O Grupo Safras solicitou a recuperação judicial em abril de 2025, sob o argumento de crise de liquidez e dívidas com passivo estimado em R$ 1,78 bilhão. A juíza chegou a deferir o pedido em 20 de maio, mas no final daquele mês, desembargadoras do TJ-MT suspenderam os efeitos da decisão e determinaram a reversão de bens estratégicos, como a fábrica de esmagamento de soja em Cuiabá, retomada pela Carbon Participações.
Mesmo após recurso ao STJ, a suspensão da RJ foi mantida, paralisando o plano de reestruturação sob condução da gestão anterior.
Perspectivas sob nova direção
Agora, sob liderança do AGRI, o grupo tenta convencer a Justiça de que a retomada das negociações com os credores fora do ambiente judicial é o caminho mais eficaz para reerguer a empresa. Em entrevista ao portal AgFeed, Marco Teixeira, CEO da Superbac e um dos sócios da AM Agro, afirmou que o time já está atuando diretamente no Mato Grosso e em contato com credores.
“Toda a gestão da companhia será feita diretamente pelo fundo. Nosso time já está no Mato Grosso, tendo as conversas que tem que ter”, disse Teixeira.
O que está em jogo para o Grupo Safras
A decisão da justiça de Sinop será crucial. Caso aceite a desistência da RJ, abre-se caminho para um modelo de reestruturação mais ágil, mas também mais arriscado para credores desorganizados. Por outro lado, se entender que a assembleia é imprescindível ou que há dúvidas quanto à legitimidade da operação societária, o impasse poderá se prolongar.
Enquanto isso, produtores rurais, fornecedores e trabalhadores seguem no aguardo de uma solução para as dívidas que se arrastam há anos e que continuam a afetar diretamente a cadeia produtiva do agronegócio mato grossense.
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