Cleusa Bianchini, investigada como mandante da morte do advogado José Antônio Silva, insistiu por mais de três anos para que Kelvinmar Cardoso Silva, o ex-funcionário, contratasse assassinos para executar a vítima. Doutor Pinga, que era seu ex-advogado, litigava contra ela em uma ação judicial que envolvia cerca de R$ 4,5 milhões em honorários.
As informações constam em inquérito policial e foram reveladas em decisão do desembargador Orlando de Almeida Perri, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), que negou um pedido de liberdade feito por meio de um HabeasCorpus em favor de Giovanna dos Santos Vageti, neta de Cleusa. A jovem de 23 anos também está presa temporariamente, acusada de participar do esquema para tentar desviar as investigações.
De acordo com os depoimentos colhidos durante a investigação, a insistência de Cleusa Bianchini começou há pelo menos três anos e meio. A esposa de Kelvinmar relatou à polícia que testemunhou diversas abordagens da idosa ao ex-funcionário, pedindo que ele matasse o advogado José Antônio.
De acordo com os depoimentos colhidos durante a investigação, a insistência de Cleusa Bianchini começou há pelo menos três anos e meio. A esposa de Kelvinmar relatou à polícia que testemunhou diversas abordagens da idosa ao ex-funcionário, pedindo que ele matasse o advogado José Antônio.
Kelvinmar, que trabalhava em uma loja cujo ponto comercial era de propriedade de Cleusa, recusava os pedidos. A situação mudou em junho de 2025, quando Kelvinmar saiu da prisão e retomou o trabalho na loja.
Cleusa o procurou novamente e, desta vez, ele aceitou intermediar o crime. Kelvinmar comprou uma pistola calibre .380 por R$ 8 mil para repassar a Cleusa e afirmou que quem executaria o homicídio seria um indivíduo conhecido como “Mete Bala”, posteriormente identificado como Kall Igor Pereira Machado, um suposto líder do Comando Vermelho em Tangará da Serra.
Terezinha da Silva Sá, mãe de Kelvinmar, deu um depoimento crucial. Ela contou que, no dia 5 de junho de 2025, encontrou R$ 8.000 em notas de R$ 200 espalhadas pela casa do filho.
Quando ela devolveu o dinheiro, Kelvinmar disse que aquele valor “valeria sua vida”. Uma semana depois, em 12 de junho, ela levou Cleusa para conversar com Kelvinmar e, ao escutar atrás da porta, ouviu a idosa exigindo o dinheiro de volta porque “o cara não havia matado o homem”.
Kelvinmar então teria dito que o dinheiro deveria ser buscado com outro envolvido, hospedado em um hotel perto de um local conhecido como “Ego”. Nesse mesmo dia, Kelvinmar entregou a arma para Cleusa.
O corpo do advogado José Antônio Silva foi encontrado na residência dele em Nova Ubiratã no dia 26 de junho deste ano, após uma ligação anônima para a Polícia Militar denunciando maus-tratos a animais no local. A vítima havia sido executada com um tiro na região occipital esquerda e apresentava sinais de tortura, sendo que três dedos da mão direita estavam decepadas.
O cadáver estava seminu, com a cueca abaixada e um cabo de vassoura próximo, indicando possível violência sexual. A investigação rastreou a ligação anônima até o Hospital 13 de Maio, em Sorriso.
A autora da chamada era justamente Giovanna dos Santos Vageti, neta de Cleusa Bianchini e filha de Alessandro Henrique Vageti, que também é investigado como partícipe do esquema. Em depoimento, Giovanna alegou que quatro homens não identificados a abordaram na rua e, sob ameaça, a obrigaram a fazer a denúncia falsa.
No entanto, ela não soube fornecer detalhes consistentes sobre a abordagem ou descrever os homens, levantando suspeitas sobre sua narrativa. A polícia concluiu que a ligação foi uma tentativa deliberada de desviar o foco da motivação patrimonial do crime, a ação judicial, para uma suposta atuação de facção criminosa.
Kelvinmar, pressionado pela dívida não paga por Cleusa, começou a cobrar publicamente a idosa. A mãe e a esposa relataram que ele passou a beber e usar drogas excessivamente, tornando-se agressivo.
Ele gritou em frente ao estabelecimento de Cleusa, chamando-a de “vagabunda” e “assassina”. Horas depois, em 18 de julho deste ano, Kelvinmar sofreu um acidente de motocicleta.
Antes de morrer, Kelvinmar havia avisado que “Mete Bala” estava a caminho da cidade para cobrar Cleusa pessoalmente, ameaçando “entrar na casa para receber da velha vagabunda” na segunda-feira seguinte. Com base nas investigações, o Juízo da Vara Única de Nova Ubiratã decretou a prisão temporária por 30 dias de Cleusa Bianchini, Alessandro Henrique Vageti, Giovanna dos Santos Vageti e Kall Igor Pereira Machado.
A decisão foi mantida pelo desembargador Orlando Perri, que destacou a “imprescindibilidade” da medida para o sucesso das investigações, dada a complexidade do caso, a gravidade do crime hediondo e o risco concreto de obstrução da justiça. A motivação do crime está diretamente ligada a uma disputa judicial milionária.
José Antônio Silva era advogado de Cleusa Bianchini em uma ação de reintegração de posse de uma propriedade rural de aproximadamente 218 hectares. Os honorários advocatícios, contratualmente estipulados em 20% do proveito, correspondiam a 43,6 hectares da área, avaliados em cerca de R$ 4,5 milhões.
Em áudios enviados para uma sobrinha, o advogado relatou ter sido ameaçado “mais de 20 vezes” e citou nominalmente os envolvidos como os responsáveis pelas intimidações. “Se uma hora der um problema, você sabe que é esse povo aí”, disse ele, demonstrando temor por sua vida.