A guerra silenciosa, mas sangrenta, que assola o interior do Mato Grosso voltou a cobrar vítimas na noite desta quarta-feira (3/9). Um casal foi executado de forma brutal dentro de um bar no centro antigo de Peixoto de Azevedo. A chacina, atribuída a pistoleiros, vitimou Alice do Nascimento Torres, de 20 anos, conhecida como “Japa” e apontada como integrante do Comando Vermelho, e seu companheiro, Raílson da Silva Fernandes, de 28 anos.
O ataque ocorreu por volta das 20h30, quando testemunhas relataram a chegada de um Celta branco ao estabelecimento. Do veículo, desceu um homem armado, que teria arrastado Alice para dentro do bar e disparado diversas vezes contra ela, sem dar chance de defesa. Na saída, o atirador voltou-se contra Raílson, que estava na porta do local, e desferiu ao menos oito disparos. Em seguida, o criminoso embarcou novamente no carro, fugindo em alta velocidade.
Alice, conhecida no meio policial por suas passagens por tráfico de drogas e tentativa de homicídio, já não apresentava sinais vitais quando a Polícia Militar chegou ao local. Raílson ainda foi socorrido em estado grave e encaminhado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas não resistiu aos ferimentos e morreu pouco depois.
A cena foi descrita como de extrema brutalidade. Testemunhas afirmam que o bar foi tomado pelo pânico, com clientes se jogando ao chão para escapar dos tiros. O local foi imediatamente isolado para os trabalhos da Politec, enquanto equipes da PM iniciaram buscas pela região, sem sucesso na captura dos suspeitos. Até o fechamento desta reportagem, ninguém havia sido preso.
A Polícia ainda não confirmou a motivação do crime, mas o duplo homicídio carrega características típicas de acertos de contas ligados ao tráfico de drogas e às disputas de facções que têm se intensificado no interior do Mato Grosso.
Nos últimos anos, cidades do norte e nordeste do estado — incluindo Peixoto de Azevedo, Matupá, Guarantã do Norte e Colíder — têm sido palco de uma disputa sangrenta entre organizações criminosas como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), que travam batalhas pela posse de territórios estratégicos para o tráfico. Essas áreas funcionam como corredores logísticos para o escoamento de drogas oriundas da fronteira com a Bolívia.
Em meio a essa guerra, execuções a sangue frio em bares, residências e até vias públicas se tornaram rotina. A morte de Alice “Japa”, apontada como figura ligada ao CV, reforça a suspeita de que o ataque pode ter sido um recado da facção rival ou mesmo resultado de um desacerto interno.
O duplo assassinato causou forte comoção em Peixoto de Azevedo, cidade que já havia registrado episódios semelhantes nos últimos meses. Moradores relatam medo e insegurança diante da escalada de violência, que transforma pequenas cidades em cenários de guerra urbana.
As investigações agora estão a cargo da Polícia Civil, que tenta identificar os pistoleiros e confirmar a ligação do crime com a guerra entre facções criminosas. Enquanto isso, a execução de Alice e Raílson se soma a uma estatística cada vez mais alarmante: a do interior do Mato Grosso tomado por facções e marcado por execuções brutais.